sexta-feira, 2 de julho de 2010

Comportamento supersticioso na Copa 2010: que falta fez aquela rodadinha!




No jogo anterior ao fatídico futebol brasileiro contra a Holanda, eu havia recebido um e-mail do meu amigo JJ com uma campanha de boicote à Rede Globo. Eu não tinha ideia dos motivos, mas considerando a política de dominação da emissora, simpatizei com a proposta mesmo assim, e decidi que participaria do boicote. Afinal, a Band fora o "canal do esporte" por tantos anos, e me trazia a melancólica lembrança da infância - não que eu seja apegada a essa fase da minha vida, mas depois dos trinta a gente começa a ficar nostálgico, de uma forma ou de outra.

No dia do jogo, liguei a tv já aos vinte e oito minutos do primeiro tempo. Como a partida havia começado, o canal sintonizado era a Globo e eu não tinha noção de em qual raio de número a Band se sintonizava agora, com esse cabo sem tv fechada, fiquei na Globo mesmo. Confesso que vivi um sentimentozinho de culpa, mas não tão grande assim, afinal, eu estaria protestando contra o quê? Mudaria de canal daí a pouco, na hora do intervalo.

Acontece que, nesses poucos minutos que restavam de primeiro tempo, o Brasil fez dois gols! Aí começou o meu momento-pombo.

Abre parêntese: Pra quem não sabe, ao fazer experimentos com pombos, no qual os animais eram alimentados em intervalos de tempo fixos, independentemente de seu comportamento, Skinner, um dos grandes teóricos da psicologia, observou que alguns pombos começaram a apresentar comportamentos estranhos. Enquanto um deles mexia a cabeça para um lado e para o outro, o outro dava voltinhas pela gaiola ou sobre si mesmo. Skinner observou que os pombos haviam "associado" esses seus comportamentos ao recebimento da comida, e os repetiam para, assim, receber mais uns grãozinhos. Resumo da ópera: eles estavam apresentando comportamento supersticioso. Fecha parêntese.

Pois bem, eis em que consistiu o meu momento-pombo: e se eu mudasse de canal e o jogo virasse?

Madame Mim: "Ah, tá, Madame Mim, você está tendo um comportamento supersticioso, evento sem qualquer poder sobre o resultado do jogo!".

"É verdade... mas vai que o jogo vira".

Por via da dúvida, eu, que afinal nem sabia o motivo da ação política, decidi que não seria aquele boicotezinho que venceria o domínio da Globo. Já a vitória do joooogo.... (que JJ não me leia!) Prossegui na Globo.

Outro dia, eu, que detesto futebol (ainda tem essa, eu detesto futebol!), acabei entrando, por acaso, num blog sobre o dito esporte brasileiro. E olhe que desventura: descobri a razão do boicote. Arrependi por não ter participado, e como não se pode mudar o passado, o jeito seria assistir, pela Band, o jogo contra a Holanda. Não era mais um boicote coletivo, mas era a minha contribuição.

Daí que ontem eu acordei já na hora do jogo. No tempo do soneca do meu despertador, ouvi os gritos da vizinhança. Corri para a tv. 1 a 0 para o Brasil, e eu assistindo o replay pela Band! Afinal, esta pessoa racional que vos escreve sabe muito bem que uma superstição nada tem a ver com a realidade do mundo. E a política é mais importante que o jogo. E ponto.

E o jogo até
ia bem, no primeiro tempo. É certo que nenhum golzinho pra abrir vantagem, definir no primeiro tempo, essas coisas que a gente espera, quando torce por um time de futebol, mas vá lá. Ou melhor, "ia lá", se o Brasil não começasse a apresentar aquele futebol do segundo tempo! Empate da Holanda. Com gol contra! E mais um!

Mudei imediatamente para a Globo.



Leitor, quando a força da ausência de um talismã toma conta de um processo no universo, nada mais é possível. Não adianta, na prorrogação, vestir finalmente a cueca que dera sorte ao time e que você não vestira por nojo, depois de oito bem-sucedidos jogos usando-a sem lavar. É preciso iniciar a partida com ela, suja e babenta, se estiver-lhe claro que a água espantaria a sorte. Nós, que abrimos mão do talismã da copa, devemos purgar os nossos pecados.


Dunga, meu bem, perdoe-nos. Se tivéssemos usado nossas cuecas, calcinhas, camisetas, meias sujas... se eu tivesse assistido, pela Globo, à escalação dos reservas, ao treinamento do grupo, às sessões de preparo psicológico, ao apoio emocional do intervalo, ao sofrimento afetivo de Felipe Melo, nada disso teria acontecido.

Mea culpa, mea máxima culpa!

E agora que o Brasil e Gana foram embora, torço (pela Globo) pela vitória dos "hermanos". Isto é: Uruguai, Paraguai e Alemanha!

(Agora, cá entre nós, com aqueles batedores de pênalti de Gana, nem Globo, nem Band, nem pombo, nem voltinha sobre a gente mesmo, nem promessa, nem God, hem! Vaibaterpênaltimallálonge! Que pena...)

(As imagens são da Jabulani e de Borat, respectivamente)



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